terça-feira, 23 de setembro de 2014

Roubando a Palestina ou comprando Israel?

Está bastante claro para todos, tanto pelo mapa traçado pela Comissão Simpson quanto por outro compilado pela Comissão Peel, que os árabes são tão pródigos em vender suas terras como o são em prantos e choros inúteis
Rei Abdulla da Transjordânia, em seu livro de memórias (London, Longman Group, Ltd., 1978), páginas 88-89 (citado em The World Turned Upside Down: The Global Battle over God, Truth, and Power -- Melanie Phillips )
A acusação árabe de que os judeus obtiveram uma proporção muito grande das terras boas [para o plantio] não se sustenta. Grande parte das terras agora contendo laranjais eram dunas de areia ou pântanos, e não eram cultivadas quando compradas. Embora, hoje em dia, à luz da experiência adquirida pela força de vontade e pela iniciativa judaica, os árabes possam denunciar os vendedores e lamentar a alienação da terra, havia, pelo menos na época das vendas anteriores, pouca evidência de que os proprietários possuíam os recursos ou o treinamento necessário para desenvolver a terra. Quanto as planícies, consideramos que, com as devidas precauções, terra ainda pode ser vendida aos judeus. 
Peel Commission Report (1937), página 242


Os sionistas roubaram terras palestinas: é esse o mantra que tanto a Autoridade Palestina quanto o Hamas ensinam aos seus filhos e disseminam na mídia. Essa alegação tem uma importância enorme, conforme explica o Palestinian Media Watch
Apresentar a criação do estado [israelense] como um ato de ladroagem e a continuação de sua existência como uma injustiça histórica serve como base da Autoridade Palestina para o não reconhecimento do direito de Israel existir.

A acusação de roubo também corrói a posição de Israel internacionalmente.

Imagística palestina: Um tubarão como Estrela de Davi devora a Palestina.
Mas... será que essa acusação é verdadeira?

Não, não é. Ironicamente, a criação de Israel representa uma das mais pacíficas migrações e criações de um estado na história. Para entender porque, é necessário entender o sionismo em seu contexto. Colocado de maneira simples: conquista é a norma histórica, e em todos os lugares governos foram estabelecidos por meio de invasões, e praticamente todos os estados se formaram às custas de alguém. Ninguém fica permanentemente no comando, as raízes de todo e qualquer indivíduo se originam em algum outro lugar.

Tribos germânicas, hordas da Ásia Central, czares russos e conquistadores espanhóis e portugueses redesenharam os mapas. Os gregos modernos têm apenas uma tênue conexão com os gregos da antiguidade. Quem é capaz de enumerar quantas vezes a Bélgica foi invadida? Os Estados Unidos foram criados com a derrota dos nativos. Reis saquearam a África, os arianos invadiram a Índia. No Japão, os falantes do idioma Yamato eliminaram praticamente a todos, menos alguns minúsculos grupos como o Ainu.

O Oriente Médio, devido a sua centralidade e posição geográfica, viu a sua cota de invasões passar da conta, incluindo os gregos, romanos, árabes, cruzados, selêucidas , timúridas e europeus modernos. 
Na região, ressentimento e tormento dinástico fizeram com que o mesmo território – o Egito por exemplo – fosse conquistado e reconquistado.

Muitas guerras por Jerusalém: O imperador Tito celebra a sua vitória sobre os judeus em 70 d.C. com uma arca mostrando soldados romanos retirando uma menorá do Templo do Monte.

A terra que constitui o Estado de Israel de hoje não é exceção. Em Jerusalem Besieged: From Ancient Canaan to Modern Israel, Eric H. Cline escreve sobre Jerusalém: "Por nenhuma outra cidade se combateu de maneira tão implacável ao longo da história". Ele fundamenta a alegação enumerando "pelo menos 118 conflitos distintos, em e por Jerusalém durante os últimos quatro milênios". Ele calcula que Jerusalém foi destruída por completo ao menos duas vezes, sitiada 23 vezes, capturada 44 vezes e atacada 52 vezes. 

A Autoridade Palestina fantasia que os palestinos de hoje são descendentes de uma tribo do antigo Canaã -- os jebusitas -- quando na realidade são descendentes de invasores e imigrantes a procura de oportunidades econômicas.

Contra esse quadro de conquistas, violência e golpes incessantes, o empenho sionista em construir uma presença na Terra Santa até 1948 se destaca como espantosamente moderada, mais mercantil do que militar. Dois grandes impérios -- o otomano e o britânico -- governaram a Terra de Israel; contrastando, os sionistas careciam de poder militar. Eles não poderiam alcançar a soberania por meio da conquista. Como alternativa, compravam terras. Adquirir propriedade, quilômetro quadrado por quilômetro quadrado, fazenda por fazenda, casa por casa, estava no coração do espírito empreendedor sionista até 1948. 

O Fundo Nacional Judaico, fundado em 1901 com o objetivo de comprar terras na Palestina "para ajudar na formação de uma nova comunidade de judeus livres comprometidos com atividades produtivas e pacíficas", foi a instituição chave para o futuro estado de Israel, e não a Haganah, a organização de defesa clandestina fundada em 1920.

Os sionistas também se concentraram na reabilitação do árido e do considerado imprestável. Eles não só fizeram o deserto florescer como também drenaram os pântanos, limparam os canais de água, recuperaram terras devolutas, reflorestaram colinas despojadas, removeram rochas e retiraram sal do solo. O trabalho de recuperação e saneamento judaico reduziu radicalmente o número de mortes relacionadas a doenças.
Somente quando a potência mandatária britânica desistiu da Palestina em 1948, imediatamente seguida pelo ataque dos países árabes usando todos os recursos e meios disponíveis para esmagar e expulsar os sionistas, que eles tiraram a espada da bainha em legítima defesa e passaram a adquirir terras através da conquista militar. Mesmo então, segundo demonstra o historiador Efraim Karsh em Palestine Betrayed, a maioria dos árabes fugiu de suas terras, sendo que um número extremamente reduzido foi forçado a sair.

Essa história contradiz a explicação palestina de que "gangues sionistas roubaram a Palestina e expulsaram a sua gente", o que levou à catástrofe "sem precedentes na história" (de acordo com um livro escolar do 3º ano do ensino médio da Autoridade Palestina) ou que os sionistas "pilharam as terras e os interesses nacionais palestinos e estabeleceram seu estado sobre as ruínas do povo árabe palestino" (conforme escreve um colunista no diário da AP). Organizações internacionais, editoriais de jornais e petições de faculdades reiteram essa falsidade em todo o mundo.

Os israelenses deveriam andar de cabeça erguida e salientar que a construção do seu país baseou-se no movimento menos violento e mais civilizado do que qualquer outro povo da história. Gangues não roubaram a Palestina, comerciantes compraram Israel.

Daniel Pipes

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