Selo postal emitido pelo governo jordaniano (1964), que mostra a Palestina do mandato britânico (que incluía Israel, a Jordânia e os territórios em disputa) como se fosse apenas a Jordânia, junto com uma imagem do falecido rei Hussein
Por décadas, os jordanianos foram ávidos proponentes da posição “A Jordânia é a Palestina”. Eles usaram essa posição como justificativa para a anexação da Cisjordânia (Judéia e Samaria), argumentando que a Palestina era uma única e indivisível unidade e que a Jordânia era sua legítima governante.
"Nós somos o governo da Palestina, o exército da Palestina e os refugiados da Palestina"
– Primeiro Ministro da Jordânia, Hazza’ al-Majali, 23 de agosto de 1959
"A Palestina e a Transjordânia são uma só"
– Rei Abdullah, em reunião da Liga Árabe no Cairo, em 12 de abril de 1948
"A Palestina é a Jordânia e a Jordânia é a Palestina; há um só povo e uma só terra, com uma história única e um destino único"
– Príncipe Hassan, irmão do Rei Hussein, dirigindo-se à assembléia Nacional Jordaniana em 02 de fevereiro de 1970
"A Jordânia não é apenas mais um estado árabe no que diz respeito à Palestina, mas em vez disso, a Jordânia é a Palestina e a Palestina é a Jordânia em termos de território, identidade nacional, sofrimentos, esperanças e aspirações"
– Ministro da Agricultura jordaniano, em 24 de setembro de 1980
"A verdade é que a Jordânia é a Palestina e a Palestina é a Jordânia"
– Rei Hussein, em 1981De fato, até 1970 a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), comandada por Yasser Arafat, conduziu operações terroristas contra a Jordânia, com a justificativa de que aquele era território palestino e que a minoria hashemita estava governando a maioria palestina. Foi somente depois que a Jordânia matou milhares de palestinos no ‘Setembro Negro’ que Israel se tornou subitamente o ‘único lar histórico dos palestinos’, enquanto a Jordânia era apagada do quadro — e a invenção do ‘palestinismo’ se transformou em verdade incontestável.
Porém, enquanto político “palestino”, Zouhair Moussein declarou ao jornal holandês Trouw em 1977:
O povo palestino não existe. A criação de um estado palestino é apenas um meio para continuar nossa luta contra o Estado de Israel e em favor da unidade árabe. Na realidade, hoje não há diferença entre jordanianos, palestinos, sírios e libaneses. Hoje nós falamos sobre a existência de um povo palestino apenas por razões políticas e táticas, uma vez que os interesses nacionais árabes exigem que apresentemos a existência de um “povo palestino” distinto em oposição ao sionismo.
Quando a OLP foi criada, em 1964, a Cisjordania (Judéia e Samaria) e Jerusalém oriental estavam sob controle jordaniano e a Faixa de Gaza estava sob controle egípcio. Na mesma época a organização emitiu uma carta com seus objetivos e crenças (Palestine National Charter of 1964). Todos os territórios que os árabes hoje chamam de "territórios palestinos ocupados" estavam sob controle da Jordânia e do Egito e, mesmo assim, nenhum país exigia a sua entrega. Nem mesmo a própria OLP:Por razões táticas, a Jordânia, que é um estado soberano com fronteiras definidas não pode fazer reivindicações sobre Haifa e Jaffa, enquanto eu, como um palestino, posso, sem dúvida nenhuma, exigir Haifa, Jaffa, Be'er-Sheva e Jerusalém. Contudo, no momento em que recuperarmos nosso direito sobre toda a Palestina, não esperaremos nem um minuto para unir a Palestina à Jordânia.
Esta organização não exerce qualquer soberania territorial sobre a Cisjordânia no Reino Hachemita da Jordânia, da Faixa de Gaza ou na Área de himmah. Suas atividades serão no nível popular nacional, nos campos organizacionais, políticos, financeiros e de libertação.
-- Artigo 24 do Palestine National Charter
De acordo com as palavras da OLP, a organização não só não exercia "qualquer soberania" sobre os territórios que hoje exige de Israel, como também não fazia qualquer menção a um desejo de exercê-la. Ela simplesmente declara que a Cisjordânia é território jordaniano e que as "suas atividades serão no nível popular nacional, nos campos organizacionais, políticos, financeiros e de libertação."
Se os árabes-palestinos não desejavam tomar o controle de Jerusalém oriental, Cisjordânia e Faixa de Gaza, o que queriam libertar então? O artigo 17 do mesmo documento responde esta questão:
A partilha da Palestina, ocorrida em 1947, e o estabelecimento de Israel são ilegais, nulos e sem efeito
-- Artigo 17 do Palestine National Charter
Em julho de 2013 o presidente da Autoridade Nacional Palestina declarou a um jornal árabe que palestinos e jordanianos são a mesma coisa, mas afirmou que a Jordânia não será o estado "palestino":
عباس اكد ان الكونفدرالية او الفدرالية غير مطروحة مع الاردن فنحن شعب واحد في دولتين وقد تجاوزنا كل ما يتعلق بالوطن البديل الى غير رجعة ولا توجد هجرات فلسطينية للاردن مطلقاً، فصمود شعبنا ندعمه بكل الاشكال
...Quando dizemos que a solução deve ser baseada nessas fronteiras [de 1967], o presidente [Abbas] entende, nós entendemos e todos sabem que o "objetivo maior" não pode ser alcançado de uma vez só. Se Israel se retirar de Jerusalém, retirar 650.000 colonos e desmantelar o muro... o que será de Israel? O país acabará.
Quem está nervoso e irritado agora? Netanyahu, Lieberman, Obama... todos esses vermes.... Nós deveríamos nos alegrar em ver Israel perturbado.Se alguém disser que quer "varrer" Israel... é muito difícil. Não é [uma política] aceitável dizer isso. Não diga essas coisas ao mundo, guarde consigo. Eu quero as resoluções que todos concordam. Eu digo para o mundo, para o quarteto e para os EUA: vocês prometeram e se transformaram em mentirosos.
É a recusa do Ocidente em reconhecer esse fato, e em seu lugar deturpar totalmente a história da região e as causas do conflito no Oriente Médio, uma das principais razões pelas quais esse impasse cruel continua até hoje.
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