quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ibn Khaldun e Israel como a terra dos judeus na tradição islâmica

Abū Zayd 'Abdu al-Raḥmān bin Muḥammad bin Khaldūn Al-Ḥaḍrami (1332 - 1406) foi um historiador árabe-muçulmano e é considerado um dos pais da historiografia.


Ele é mais conhecido graças ao livro al-Muqaddimah (Prolegomena em grego), que serve como introdução ao primeiro livro de seu Kitab al-'Ibar ("a História do Mundo").
Nesse livro, além de simplesmente mencionar e descrever acontecimentos, ele tenta oferecer explicaçoes racionais -- os "comos" e os "porquês" envolvidos nos acontecimentos históricos por ele descritos. Ibn Khaldun também costumava fazer uso de fatos históricos para tentar provar suas idéias. E é aqui que este estudioso muçulmano, que morreu há mais 600 anos, tem algumas coisas importantes a dizer sobre os judeus e Israel.

Por exemplo, ao criticar o historiador e geógrafo shiíta al-Mas'udi na introdução de seu livro -- uma crítica onde o próprio Ibn Khaldun escorrega na matemática -- ele comenta:

... o território dos persas era muito maior do que o dos israelitas. Este fato é atestado pela vitória de Nabucodonosor sobre eles. Ele engoliu o seu país e ganhou controle completo sobre ele. Nabucodonosor também destruiu Jerusalém, sua capital política e religiosa."

E continua:

Agora, é sabido que o território [dos israelitas] não correspondia a uma área maior do que as províncias da Jordânia e da Palestina na Síria e do que a região de Medina e Khaybar em Hijaz.

No primeiro trecho ele confirma um fato histórico inegável: Israel era o território dos judeus e Jerusalém sua capital política e religiosa.
Já no segundo, ele afirma o mesmo que todos os árabes -- ao menos até a criação de Israel: Jordânia e Palestina eram apenas províncias da Síria, e não países com uma população com pretensões nacionalistas ou em busca de soberania e auto-determinação -- com a exceção dos habitantes judeus.


No capítulo 3 ("On dynasties, royal authority, the caliphate, government ranks, and
all that goes with these things")
(31. Remarks on the words "Pope" and "Patriarch" in the Christian religion and on the word "Kohen" used by the Jews):

É por isso que os israelitas, depois [dos tempos] de Moisés e Josué, permaneceram desinteressados quanto a uma autoridade real por cerca de 400 anos. Sua única preocupação era estabelecer sua religião.
... Os israelitas desapossaram os cananeus da terra que Deus havia lhes dado como seu patrimônio em Jerusalém e nos arredores da região, como havia sido explicado a eles por meio de Moisés.


... As nações dos filisteus, cananeus, armênios[!], edomitas, amonitas e moabitas lutaram contra eles. Durante esse [tempo], a liderança política era confiada aos anciãos que estavam entre eles. Os israelitas permaneceram nessa condição por cerca de 400 anos.


“Ele [Saul] derrotou as nações estrangeiras e matou Golias, o governante dos filisteus. Depois de Saul, Davi tornou-se rei, e, em seguida, Salomão. Seu reino floresceu e se estendeu para as fronteiras de Hijaz e para além das fronteiras do Iêmen e da terra dos romanos (bizantinos). Depois de Salomão, as tribos se dividiram em duas dinastias... Uma das dinastias era a das dez tribos na região de Nablus, a capital da Samaria** e a outra era a dos filhos de Judá e Benjamin em Jerusalém. Então, Nabucodonosor, rei da Babilônia, os privou de sua autoridade real. Ele primeiro [lidou com] as dez tribos em Samaria, e, em seguida, com os filhos de Judá em Jerusalém. Sua [dos israelitas] autoridade real teve uma duração ininterrupta de mil anos.

De acordo com Ibn Khaldun, a soberania judaica na Terra de Israel se estendeu por 1400 anos. Em nenhum momento, neste  ou em outros livros, o historiador árabe menciona um povo palestino ou nação palestina. Já Muqaddasi, outro historiador árabe (nascido na Palestina no século X) afirmou que os judeus eram mais numerosos em Jerusalém e que não havia congregação muçulmana na cidade.

Ibn Khaldun, obviamente, se baseia na narrativa corânica. Por esse motivo há várias afirmações que vão de encontro a narrativa bíblica -- como no caso de Golias como governante dos filisteus e não apenas como um guerreiro. Ele tende a usar a Bíblia como fonte apenas quando o Corão não relata casos similares -- caso da unção de Saul como rei. O Corão simplesmente diz que ele foi ungido por um profeta, então ele se baseia na Bíblia para afirmar que o rei de Israel foi ungido pelo profeta Samuel.

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