sexta-feira, 18 de julho de 2014

"A maioria dos mortos em Gaza é civil."


Em tempos de guerra o trabalho da imprensa costuma ser extremamente difícil em razão dos riscos inerentes a qualquer conflito armado, mas em Gaza a tarefa é ainda mais árdua: o Hamas, que mesmo em períodos de relativa paz já controla com mão de ferro toda a informação que entra e sai do território, passa a ser a única fonte de informações -- que passam a ser repetidas pela ONU, por ONGs e pela imprensa sem questionamentos ou confirmação. 

Traduzo aqui folhetos produzidos pelo governo do Hamas e partes da página oficial do Ministério do Interior do grupo no Facebook. Os panfletos e os videos instruem a população a mentir, ensinam como enganar a imprensa internacional e exigem que TODOS os mortos sejam chamados de "cidadãos inocentes" (مواطن بريء) em entrevistas ou conversas com ocidentais.




Tradução:

Qualquer pessoa morta ou martirizada deve ser chamada de civil de Gaza ou da Palestina antes de falarmos sobre seu status na jihad ou sua patente militar. Não se esqueça de sempre acrescentar "cidadão inocente" para descrever os mortos em ataques israelenses. 

لا تنسى ان تضيف دوما "مواطن بريء" لتصف الذين قتلوا في العدوان على غزة بعد الغارة الإسرائيلية



Tradução:

Comece seus relatos das ações da resistência com a frase "em resposta ao cruel ataque israelense" e conclua com a frase "tantas pessoas (número de mortos) foram martirizadas desde que Israel começou sua agressão contra Gaza". Certifique-se de sempre perpetuar o princípio: "o papel da ocupação é atacar, e nós, na Palestina, estamos cumprindo [o papel d]a reação".


دوما ركز على مفهموم "دور الاحتلال الإسرائيلي هم الاعتداء ونحن في فلسطين نمثل رد الفعل"


No oitavo panfleto o Ministério do Interior preparou uma série de sugestões específicas para ativistas palestinos que falam com ocidentais através das redes sociais. O ministério destaca que, para manipulá-los emocionalmente, as conversas devem ser conduzidas de forma diferente das conversas com outros árabes:



Tradução:

Ao falar com ocidentais, você deve usar um discurso político, racional e convincente, e [deve] evitar um discurso emocional que implore por simpatia. Há elementos com consciência no mundo; você deve manter contato com eles e usá-los em benefício da Palestina. O papel deles é envergonhar a ocupação e expor suas violações. 


لا تدخل في جدل سياسي مع الغربي لتقنعه بان المحرقة كذب وخداع ، بل قارن بينها وبين جرادم إسرائيل بحق الفلسطينيين المدنيين 

Evite entrar em uma discussão política com um ocidental visando convencê-lo de que o Holocausto é uma mentira e uma fraude; em vez disso, iguale [o Holocausto] aos crimes de Israel contra civis palestinos.

A "narrativa da vida" versus a "narrativa de sangue": 
[ao falar] com um amigo árabe, comece pelo número de mártires (terroristas). [Mas ao falar] com um amigo ocidental, comece com o número de mortos e feridos. Certifique-se de humanizar o sofrimento palestino. Tente pintar um retrato do sofrimento dos civis em Gaza e na Cisjordânia durante as operações da ocupação e de seus bombardeios de cidades e aldeias.

Não publique fotos de comandantes militares. Não mencione seus nomes em público e não louve suas realizações em conversas com amigos estrangeiros!

Mensagem para ativistas no Facebook postada no website oficial do Ministério do Interior do Hamas 


Atualização 
Ayman Batniji (أيمن البطنيجي), o porta-voz da polícia palestina na Faixa de Gaza, reproduziu (no dia 8 de julho) na página oficial da polícia instruções publicadas nos panfletos acima:



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