Ayoub Kara, um parlamentar druso membro do partido Likud (liderado por Benjamin Netanyahu), orgulha-se de ser considerado um dos políticos mais a direita em Israel e por ser mais sionista que a maioria dos judeus do país.
Kara, que foi nomeado por Netanyahu como ministro adjunto para o desenvolvimento do Negev e da Galiléia, foi eleito pela primeira vez para o parlamento israelense em 1999. Ele já ocupou os cargo de porta-voz do congresso, serviu como presidente da Comissão dos Trabalhadores Estrangeiros e depois como presidente do Comitê Anti-Drogas.
Ayoub Kara vive na cidade drusa de Daliyat al-Karmel, perto de Haifa, com sua esposa e cinco filhos.
Entrevista (original)
Você pode explicar a história e as atitudes do povo druso?
Os drusos descendem de Jetro, o sogro de Moisés. Tanto Jetro quanto Moisés são profetas para os drusos, e nós compartilhamos o mesmo livro religioso com os judeus. Os drusos acreditam, por meio do profeta Jetro, que a terra de Israel é dos judeus e deve ser defendida para os judeus.
Cerca de uma centena de anos atrás, quando os judeus queriam criar um estado próprio, os drusos os ajudaram. Eles defenderam kibutz (cooperativas agrícolas) judaicos e forneceram armas aos judeus no norte. Eles até mesmo cooperaram com os drusos na Síria para apoiar os judeus. Há cerca de dois milhões de drusos em Israel, que vivem no norte, na Galiléia, no Carmel, e nas Colinas de Golã, e servem no exército israelense. Ao contrário dos palestinos, não temos aspirações por um estado próprio.
Os drusos em outros países compartilham as mesmas crenças em relação a Israel?
Esta é a filosofia da maioria dos drusos, mas eles estão com medo de falar sobre isso. Os drusos têm medo dos muçulmanos. Privadamente, eles dizem que compartilham uma religião histórica com os judeus, mas em voz alta a maior parte do drusos não falam assim. Não há democracia e liberdade de expressão nos países árabes, e muitos dos drusos são pressionados a se converter ao Islã. Em Israel é diferente, porque temos a liberdade de dizer que somos drusos, e temos até uma bandeira drusa ao lado da bandeira israelense. Nós não podemos fazer isso em países árabes. Eu estive no Líbano e na Síria, e eu sei como os drusos lá se sentem. Eles se sentem como estrangeiros e estão com medo dos muçulmanos.
Até que ponto a sua família esteve envolvida na luta de Israel por sobrevivência?
Antes de 1948, meu avô ajudou os judeus e pagou um grande preço. Seu filho -- meu tio -- foi o primeiro druso a ser morto pelos árabes em 1939. Ele era um oficial ao lado de Chaim Weizmann, o primeiro presidente de Israel, e foi morto por árabes em Acco [Acre], porque disseram que ele apoiava os judeus. Meu pai lutou com a Tzahal (exército de Israel) em 1948 na Galiléia. Outro tio meu foi morto por árabes na mesma época. E os meus dois irmãos foram mortos na Guerra do Líbano, em 1982, perto de Beirute.
Eu também fiquei gravemente ferido na Guerra do Líbano, e meus pais morreram em seguida de tristeza. Voltei para o meu vilarejo perto de Haifa e comecei a minha própria família depois disso. Eu preciso de paz. Eu não gosto de guerra, mas eu falo sobre a minha tragédia porque isso é importante para saber como a minha família pagou um preço por defender Israel. Eu acredito que a maior importância para mim, mais do que tudo, é que eu vivo em um estado democrático com os direitos humanos. Em todos os países árabes vizinhos não existem direitos humanos, não há tribunais, não há justiça.
Você serve como ministro adjunto da Galiléia e do Negev. Quais desafios você considera mais importantes nestas áreas?
O grande problema na Galiléia e no Negev é a migração de pessoas dessas áreas para o centro de Israel. Elas se mudam para lá para estudar e trabalhar, porque não temos empresas e negócios no norte e no sul para proporcionar trabalho para os jovens. E quando eles se deslocam para o centro, isto significa que os árabes ganham nestas áreas. O presidente [Shimon] Peres continua falando sobre dados demográficos como a razão para dar aos palestinos um outro estado. No futuro, um novo Peres poderia chegar e dizer que temos que dar aos árabes do norte e do sul um outro estado. Tenho medo disso porque vai haver mais árabes do que judeus lá.
Que esforços você está fazendo para combater este problema?
Eu estou tentando introduzir novas iniciativas no governo. Uma delas é na área da educação. Agora oferecemos aos soldados que terminam o exército a oportunidade de estudar gratuitamente na Galileia e no Negev, e também estamos construindo uma grande faculdade de medicina na Galiléia. Estamos tentando construir novas e grandes estradas para que as pessoas se desloquem mais rapidamente do centro [de Israel]. Apoiamos as empresas que vêm a estas áreas e proporcionamos incentivos para elas. Nós permitimos que Intel abrisse uma grande fábrica no Negev com muitos benefícios do governo. Esta é a nossa oportunidade de mudar a demografia. Se nós não perseguirmos isso, nos encontraremos com mais árabes do que judeus nessas áreas. Em 1948, havia 20.000 beduínos no Negev. Agora, sem imigração, existem 200 mil beduínos.
Você falou veementemente contra a retirada de Gaza. Você acha que a população israelense aprendeu alguma coisa com os resultados dessa retirada?
Eu acho que o povo judeu é muito ingênuo. Eu fui contra a retirada do Líbano e fiquei sozinho na oposição. Eu disse que o Hezbollah se sentiria motivado com isso. Em 1982, a maior parte da população do Líbano era mais liberal - cristãos, drusos e muçulmanos seculares - e nós estavamos praticamente em paz com eles. Eu disse para [o então primeiro-ministro Ehud] Barak que era importante que apoiássemos este grupo. Mas nós nos retiramos rapidamente e o Hizbullah ganhou força nesta área, como resultado da retirada.
A mesma coisa aconteceu quando Sharon comandou a retirada de Gaza. Eu liderei a oposição a este plano no governo, mas quando eu me pronunciei, fui acusado de me opor a paz e de apoiar a guerra. Tentei parar o retirada através do comitê financeiro do parlamento, mas me disseram que se eu não concordasse, eles me jogariam para fora do parlamento. Agora é diferente. Mais de 90% agora entende que o que aconteceu em Gush Katif (Gaza) e no sul do Líbano foi um erro. Eles sabem que se houvesse qualquer retirada em Yehuda e Shomron (Cisjordânia), a mesma coisa que aconteceria e haveria uma ascendência iraniana nessas áreas.
Mas nós temos a Suprema Corte e outros liberais em Israel que pensam que estão a negociar com pessoas que têm a mesma mentalidade que judeus, europeus ou americanos. Mas no Oriente Médio, os árabes lhe dizem o que você quer ouvir e não o que você tem que ouvir. Os judeus não entenderam isso até agora.
Eu não quero que Israel cometa outro erro. Este é o meu estado. Para mim, a religião não é importante - druso, judeu ou cristão. Eu sou um patriota israelense.
No entanto, você serve como um ministro adjunto em uma coalizão do Likud, cujo primeiro-ministro endossou a solução de dois Estados e pressiona por negociações diretas com os palestinos. Você vê isso como uma contradição?
Eu apoio Netanyahu e sou um de seus amigos mais próximos. Eu não acho que ele desistiria de qualquer território, mas ele é realista e sabe que ficaria mal aos olhos do mundo caso ele venha a se opor a Obama. Obama tem uma agenda para dar um estado aos palestinos. Mas ele não mora aqui. Nós moramos. Quando eles nos forçaram em Gush Katif (Gaza), nos lhes demos a terra, e quando fomos atacados depois eu não vi os EUA virem para nos defender...
É muito popular dizer "dois Estados para dois povos", mas quando você fala isso, você tem que ter um parceiro e uma liderança para dar-lhes um Estado. Quem levaria este estado? Abbas e Fayyad não podem atravessar a fronteira de Hebron. Se houvesse uma eleição na Cisjordânia, é claro que o Hamas ganharia. E Abbas e Fayyad não comandm Gaza. Eles não são relevantes lá. Se eles atravessassem a fronteira para Gaza o Hamas os mataria. É por isso que eu rio quando falam sobre dois estados.
Em toda a história, nunca houve um Estado palestino. Eu não apoio a solução de dois Estados. Temos que olhar para as intenções dos palestinos. A maioria dos palestinos não acreditam que Israel deva existir. O estado dos palestinos é a Jordânia. Mais de 90% da [população da] Jordânia é palestina. Se eles querem que a gente volte para as fronteiras de 1967, então a Jordânia deve comandar as cidades palestinas na Judéia e Samaria (Cisjordânia) de forma civil, e não na defesa [militarmente], enquanto Israel deve [manter a sua presença] nas grandes cidades e em todas as áreas no meio. E o Egito deve retomar o controle de Gaza. Devemos acabar com qualquer relacionamento com Gaza. Não temos qualquer outra solução para Gaza. De facto, temos outro estado lá.
Mas e se o Egito não quiser uma relação com Gaza?
E daí? Nós estamos sendo forçados a dar outro estado e também não queremos que isso aconteça.
Se eles querem que a gente se desloque para as fronteiras de 1967, então eles tambem têm que fazer o mesmo (até 1967 Gaza era território controlado pelo Egito).
O Egito tem problemas com a Irmandade Muçulmana, mas nós também temos nossos problemas. Se os egípcios matassem algumas milhares de pessoas em Gaza, em plena luz do dia, ninguém diria nada, mas se Israel mata um palestino isso vira notícia em todo o mundo. Se nós não dermos Gaza para o Egito, não há outra solução. A mesma coisa com a Jordânia e a Cisjordânia.
Precisamos de uma verdadeira paz no Oriente Médio, mas eu não vou concordar com o plano de Obama. Nenhum Obama e nenhum Osama pode nos forçar a permitir que o Irã entre em Jerusalém.
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